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Arquitetos: Rosenbaum, Terra e Tuma Arquitetos Associados
- Área: 2376 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Pedro Kok
Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizada às margens do Rio Javaés, no município de Formoso do Araguaia, no estado de Tocantins, Brasil, a Escola-fazenda de Canuanã foi fundada pela Fundação Bradesco em 1973 a fim de atender à demanda de educação de crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. A escola funciona em regime de internato atendendo filhos de assentados, caboclos e indígenas que moram na zona rural do centro-norte brasileiro. Além de cerca de 800 alunos, a fazenda possui 270 funcionários das áreas de pedagogia, nutrição, saúde e administração.
“Na Escola de Canuanã, alguns estudantes reveem seus familiares uma vez por mês. Muitos deslocando-se por grandes distâncias até a volta ao lar, ou o inverso: pais caminham ou navegam até Canuanã. Outros, se reencontram uma vez por ano. A longa permanência de crianças e adolescentes na instituição (...) expostos à intensa e compulsória vida coletiva, modificam sua sociabilidade, seus modos de vida de origem, estabelecendo novos laços, novas relações pessoais e emocionais (às vezes não necessariamente nos moldes desejados pela instituição). Essa disciplina vivenciada na infância e na juventude predominarão na trajetória pessoal, social e profissional de cada interno em suas vidas futuras. Desenhar uma parte componente desse sistema não é uma empreitada inocente.” Hugo Segawa, 2018.
O novo refeitório de Canuanã é consequência do plano diretor que desenvolvemos para o complexo educacional, orientador do sistema de ocupação e implantação das edificações, passando da escala urbana para o edifício, chegando ao projeto dos equipamentos e mobiliário.
O enfrentamento das condições climáticas extremas: calor o ano todo, intensa exposição ao sol e ventos que carregam terra e chuvas torrenciais, foi um dos critérios para a implantação e desenho do edifício, que convive com o bioma natural, sem o uso de climatização artificial.
O projeto de arquitetura teve como ponto de partida a criação de uma nova forma das pessoas se relacionarem com o espaço de alimentação e o convívio durante estes momentos. Se antes, o refeitório era entendido apenas como um equipamento funcional e burocrático, na leitura atual ele incorpora uma dimensão didático-pedagógica além de estimular as crianças a vivenciarem as suas refeições num ambiente de acolhimento e encontro. Está localizado entre os núcleos administrativo e pedagógico, implantado estrategicamente para que o novo espaço possa abrigar também a escola-rural,uma unidade de aprendizagem integrada à cozinha, que prepara e serve oito mil refeições diárias.
Salão. O salão de refeições atende a 300 pessoas simultaneamente, foi fragmentado em pequenos núcleos de mesas organizadas em diferentes salas em torno dos jardins internos, criando um edifício-varanda. Os jardins internos são compostos por espécies de vegetação nativas, que dialogam com o entorno do edifício, criando um ambiente de calma com luz natural filtrada que permeia o espaço através de grandes domus que se projetam sobre os jardins.
A cobertura oferece sombra para o salão, protegido por uma pele de telas mosquiteiras encaixilhadas, permitindo constante ventilação e permeabilidade visual. Alinhados à cobertura, à leste e à oeste, um conjunto de brises em tijolos, protegem o refeitório da incidência direta do sol e chuva, conduz o vento e desenha a luz do sol no salão, acompanhando o movimento do dia.
Praça de acesso. O principal acesso ao salão de refeições se dá por uma praça sombreada marcada pela contraposição entre um espaço de estar escavado no solo e um núcleo de apoio (sanitários e lavatórios) revestido pelo painel do artista amazoense Denilson Baniwa, nas cores urucum e jenipapo em superfície cerâmica, integrando os espaços internos e externos. Segundo a cosmologia Javaé, o homem também era habitante do fundo das águas do Rio Javaés, em torno da Ilha do Bananal.
Cozinha. O projeto da cozinha industrial possui espaços de armazenamento, preparo, padaria, açougue, vestiários, administração e sala para aulas. Foi concebido para que fosse possível a gestão do cardápio com o pré-preparo de alimentos e uma gestão eficiente de insumos e conservação. Os espaços de trabalho recebem um tratamento acústico, luminoso e ambiental.
Materiais. Concebido em estrutura metálica esbelta e proporção acolhedora, a cobertura tem forro de eucalipto tratado e iluminação indireta. As paredes de vedação dos espaços fechados e os brises, são em tijolos de solo-cimento fabricados na obra com o solo da própria fazenda. Os tijolos são prensados e moldados com o dimensionamento necessário para obter o melhor desempenho. Devido à sua propriedade física, os tijolos possuem uma maior inércia, contribuindo para o conforto térmico dos espaços.